O que a crise climática tem a ver com o mercado de tecnologia? Você deve estar se perguntando. À primeira vista, esses dois temas podem parecer desconexos, mas, na realidade, eles estão intrinsecamente ligados em um jogo de causa e efeito que tem repercussões significativas no nosso futuro.
A crise climática
Esse é um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta atualmente. O aumento das emissões de gases de efeito estufa, o esgotamento dos recursos naturais e a degradação ambiental ameaçam nosso planeta e o bem-estar das gerações futuras. Diante desse cenário, surge a necessidade de adotar abordagens sustentáveis em todas as áreas da vida, inclusive no desenvolvimento de software.
O setor de tecnologia, embora seja considerado uma das principais forças impulsionadoras da inovação e do progresso, também tem um impacto significativo na crise climática. À medida que a demanda por dispositivos eletrônicos, serviços online e infraestrutura de dados aumenta, é essencial examinar o impacto ambiental dessa indústria, a começar por dois grandes pontos:
- Emissões de gases de efeito estufa:
O setor de tecnologia é responsável por uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa. De acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), o setor de tecnologia, incluindo a fabricação, operação e descarte de dispositivos eletrônicos, representa cerca de 3,7% das emissões globais. Isso é comparável às emissões de toda a indústria da aviação.
- Consumo de energia:
A crescente demanda por serviços online, data centers e dispositivos eletrônicos consome uma quantidade massiva de energia. Segundo a Agência Internacional de Energia, o consumo global de eletricidade pelo setor de tecnologia pode dobrar até 2030, com o avanço das tecnologias como a inteligência artificial, a demanda por energia tende a aumentar ainda mais. Isso representa uma preocupação, pois a maior parte da energia ainda provém de fontes não renováveis, como carvão e gás natural.
A crescente relevância das IAs promete revolucionar a humanidade, mas é necessário pensar nos impactos.
Neste ano, as inteligências artificiais têm sido destaque, revelando um enorme potencial para transformar o mundo e aprimorar diversos aspectos de nossas vidas. Contudo, é importante considerar qual é o impacto ambiental que essas tecnologias podem gerar à medida que se tornam mais presentes em outras áreas, como no transporte, indústria, saúde e agricultura.
Em uma interação com o ChatGPT, inteligência artificial desenvolvida pela OpenAI, é possível saber que, treinar modelos de inteligência artificial de grande escala pode exigir um consumo significativo de energia, especialmente se envolver o uso de recursos computacionais intensivos, como servidores e data centers. Esses recursos podem ser alimentados por diferentes fontes de energia, incluindo algumas que podem gerar emissões de gases de efeito estufa.
O treinamento de modelos de inteligência artificial pode variar em termos de recursos utilizados, o tamanho do modelo, a duração do treinamento e a infraestrutura necessária. Esses fatores influenciam diretamente o consumo de energia e as emissões de carbono associadas ao treinamento, mas já temos alguns dados:
- Consumo de energia
As IAs são computacionalmente intensivas e exigem grandes quantidades de energia para operar. Os algoritmos de aprendizado de máquina e os modelos de IA treinados em data centers consomem uma quantidade significativa de eletricidade. De acordo com um estudo publicado na revista Nature, o treinamento de apenas um modelo de IA pode emitir tanto dióxido de carbono (CO2) quanto cinco carros ao longo de sua vida útil.
- Infraestrutura de dados e armazenamento
As IAs dependem de grandes quantidades de dados para treinamento e funcionamento. Esses dados precisam ser armazenados em servidores e data centers, que consomem energia para se manterem funcionando 24 horas por dia. Além disso, o aumento do uso de serviços em nuvem para hospedar os modelos de IA também contribui para um maior consumo de energia e emissões de gases de efeito estufa.
- Potencial para soluções sustentáveis
Apesar dos desafios, as IAs também podem desempenhar um papel importante na mitigação da crise climática. As tecnologias de IA podem ser usadas para otimizar o uso de energia, melhorar a eficiência de edifícios e redes elétricas, desenvolver modelos climáticos mais precisos e facilitar a transição para fontes de energia renovável.
O consumo de energia, a infraestrutura de dados, o impacto na mobilidade e transporte são alguns dos aspectos a serem considerados. No entanto, é importante destacar que as IAs também têm potencial para impulsionar soluções sustentáveis.
Por meio de pesquisas e desenvolvimentos contínuos, é possível buscar um equilíbrio entre a adoção de IAs e a mitigação dos impactos ambientais, trabalhando em direção a um futuro mais sustentável e resiliente.
Você já ouviu falar em GreenCoding?
GreenCoding, refere-se à prática de desenvolver softwares de maneira ambientalmente consciente e sustentável. O termo “GreenCoding” é uma extensão do conceito mais amplo de desenvolvimento de software sustentável, que visa reduzir o impacto ambiental da indústria de tecnologia.
O GreenCoding envolve várias abordagens e técnicas para minimizar o consumo de energia, otimizar o desempenho dos aplicativos e reduzir as emissões de carbono associadas ao desenvolvimento de software. Algumas práticas de GreenCoding incluem:
- Eficiência Energética: Os desenvolvedores buscam escrever códigos que consumem menos energia durante a execução, reduzindo assim a carga nos sistemas e infraestrutura.
- Otimização de Recursos: Os recursos do sistema, como memória e processamento, são utilizados de forma eficiente, evitando desperdícios e promovendo uma melhor utilização dos recursos disponíveis.
- Minimização de Emissões: Optar por linguagem de programação menos poluentes. É possível estimar a emissão de gás carbônico em ferramentas gratuitas de código, como o Cloud Carbon Footprint.
- Design Sustentável: Ao projetar aplicativos, os desenvolvedores levam em consideração o uso eficiente de recursos, a facilidade de manutenção e a longevidade do software, a fim de reduzir a necessidade de atualizações e descartes prematuros.
A prática do Green Coding é uma estratégia para reduzir a pegada ambiental da indústria de tecnologia e promover um desenvolvimento de software mais responsável. Ao adotar essas práticas, as empresas podem contribuir para reduzir o uso de recursos físicos, de energia e usar a energia de forma mais inteligente.
O desperdício de recursos também é um grande vilão da indústria de tecnologia
Uma pesquisa da CHAOS Report do Standish Group aponta que, 64% das funcionalidades tipicamente produzidas não são utilizadas. Isso significa que uma parcela significativa dos recursos, esforços e energia investidos na criação de softwares acaba sendo desperdiçada.
Há diversas razões pelas quais isso ocorre. Em muitos casos, as funcionalidades são projetadas com base em suposições sobre as necessidades dos usuários, mas não são validadas de forma adequada. Isso pode resultar em recursos sendo implementados que não agregam valor real ou não atendem às demandas reais dos usuários. Além disso, o próprio ciclo de desenvolvimento de software, muitas vezes acelerado, pode levar a decisões precipitadas sobre quais funcionalidades priorizar, resultando em um excesso de recursos que não são efetivamente utilizados. Isso, por sua vez, intensifica a demanda de energia, gerando uma pegada de carbono maior para a indústria de tecnologia.
Na Performa_IT temos a política explícita que estabelece que “não basta ser possível, precisa ser necessário”, que reflete o nosso compromisso com a eficiência e a otimização de recursos. Essa abordagem destaca a importância de evitar o desenvolvimento de funcionalidades desnecessárias e focar naquelas que realmente agregam valor aos usuários.
Através do pensamento Lean, buscamos validar o produto certo, antes de construir certo o produto. Incentivando uma mentalidade orientada pelas necessidades reais dos usuários e evitando o desperdício de recursos, tempo e energia no desenvolvimento de soluções. Ressaltando a importância de uma análise criteriosa e constante das demandas dos usuários garantimos que cada funcionalidade implementada seja realmente necessária e traga benefícios tangíveis.
Conclusão:
O setor de tecnologia, embora traga inúmeras vantagens e avanços, também possui um impacto significativo na crise climática.
É fundamental que empresas e consumidores adotem práticas mais sustentáveis, como a eficiência energética, o aumento da reciclagem e a redução do consumo excessivo e do desperdício.
Na era em que o armazenamento e processamento em nuvem estão em constante crescimento, é importante lembrar que a ausência física da torre do computador sob a mesa não significa que ela deixou de existir. Ser sustentável implica ter a consciência de que, mesmo com acesso a um recurso abundante, é necessário aplicar o pensamento Lean: não basta apenas ser possível, precisa ser necessário.
Com essa perspectiva, utilizaremos nossos recursos de forma mais consciente, visando à abundância e acesso para todos os habitantes do nosso planeta azul.
Dessa forma, a tecnologia pode firmar-se como uma impulsionadora de um mundo mais sustentável. Essa abordagem alinha a tecnologia com a construção de uma sociedade mais equilibrada, estabelecendo-a como uma poderosa aliada na busca por soluções para a crise climática e a indispensável preservação do nosso planeta e seus recursos.